quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Da fragilidade do SER!


Desde cedo, meus ouvidos, conectores entre mim e o mundo de ruídos e silêncios que me cerca, se acostumaram com a sonoridade da frase: "Você precisa ser alguém na vida!".

Dita de todas as formas e nuances, às vezes de uma suavidade preocupada, outras, de um frenesi falsamente controlado, cada sílaba parecia embutir em mim o sinal da dúvida. Na frente do espelho, a estranha que me olhava, não era eu, mas era a única figura que não precisava gesticular um "A" pra me advertir sobre o desleixo da preocupação que eu não tinha em SER alguém na vida. E eu tentava fugir dela, desviando o olhar. Imaginava-me feita de éter, assim podia evaporar por qualquer fresta, caber em qualquer cantinho, ou ocupar vastas dimensões...

Mas o que vem a ser Ser alguém na vida?

Colocado o problema, eu confesso que não sei de imediato uma resposta pra esta questão que, até hoje, teima me me atormentar!

Conheço pessoas que tem de um tudo, pouco, e conheço pessoas que tem de um nada...tudo! Já trombei com figuras que transmitiam a idéia de terem saltadas de um livro de ficção científica. Outras, vestiam-se de Kerouac...e muitas, muitas delas levavam no rosto marcas indecifráveis para mim.

Ao contrário disto, deparei-me com seres humanos cheios de si, donos de corpos inexpressivos e quase inanimados e de faces cavadas, ocas...que carregavam explicitamente a urgência de uma auto-reflexão. Não que eu tenha dito isso a algum deles, porque isso é coisa que nunca, nunca deve ser dita por outro e sim sentida na alma.

Até aqui, parece perfeitamente possível o planejamento de uma linha de reflexão acerca do tema ... e humanamente inadmissível achar uma solução, que chego a pensar que passarei o resto da vida a procurá-la. Vou ainda além, acredito mesmo que não exista uma resposta. Trata-se de um problema inerente ao homem, portanto sem uma conclusão, já que carrega na sua natureza uma ambiguidade característica de tudo que é desta origem.

Mas para tentar, eu disse TENTAR, que fique bem claro, ilustrar algo de "concreto" que feche o texto temporariamente, sim, porque todo texto deve ser redondinho, vou me basear em muito que aprendi com uma mulher admirável de nome Clarice e sobrenome, Lispector...lá vai:

Para mim, Dominique Seraut, todo mundo é....e ponto. Quando se trata do ser do homem, o verbo ser jamais deve ser usado no seu modo infinitivo, somente no presente do indicativo . As pessoas são o que são no agora, no instante já. O que elas serão, não existe...porque cada instante já é passado para trás por um outro instante já com a velocidade mesma da luz. E o futuro, é somente a sombra projetada a frente dos muitos instantes já; seus objetos; que vivemos, seja de forma intensa ou não. Sombras virtuais, portanto, que não existem e só chegarão a existir quando não forem mais sombras e sim o objeto mesmo. Arrisco aqui a dizer que Ser alguém na vida é característica nata! Afora todos os significados econômicos e sociais...o aspecto ontológico do verbo ser para o homem é inseparável do ser humano que o homem é!

Então, meus caros, concluo que eu, tu, ele ou ela, nós, vós, eles ou elas já nascem sendo...já são...e não podem ser se não forem no aqui e agora...no instante já, que já passou e continua a passar...incessantemente...ininterruptamente... de um modo infinito!!!!!

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